Perema do Pará, assim foi batizada a nova espécie de tartaruga de água doce da Amazônia que habita os igarapés do entorno da Unidade de Conservação (UC) Parque Estadual Serra dos Martírios/Andorinhas (Pesam), no município de São Geraldo do Araguaia, sudeste paraense. A descoberta foi feita a partir de estudo de exemplares da coleção de Herpetologia do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Núcleo de Ecologia Aquática e Pesca da Amazônia (NEAP/UFPA), do projeto Turtle Conservancy, da Chelonian Research Foundation e da ReWild.
O nome científico é Mesoclemmys sabiniparaensis, e é nomeado “sabini” em homenagem a Andrew Sabin, e “paraensis” em honra ao Estado do Pará.
O Pesam é uma UC de Proteção Integral localizada integralmente no município de São Geraldo do Araguaia, e encontra-se em região montanhosa, zona de transição entre os biomas Floresta Amazônica e Cerrado, repletos de uma diversidade de ecossistemas, belezas cênicas, cachoeiras, sítios arqueológicos registros rupestres, trilhas e outras belezas naturais.
O estudo teve início em 2018, e foi liderado pelo herpetólogo Fábio Andrew Gomes Cunha, da Universidade Federal do Pará (UFPA), a partir de uma visita ao centro de Herpetologia do (MPEG), considerado o maior acervo da região amazônica, abrigando cerca de 100 mil espécimes de anfíbios e répteis, a grande maioria preservados em álcool e alguns indivíduos em via seco.
“Estávamos em processo de descrição de uma nova espécie, da região do Baixo Amazonas, e ao estudarmos os animais depositados no Museu Emílio Goeldi, encontramos um grupo de tartarugas muito semelhantes entre si e completamente diferentes de tudo que se conhecida, até aquele momento. Foi algo de saltar os olhos”, disse o pesquisador.
De acordo com pesquisador Fábio Cunha, após o primeiro contato, iniciou-se um estudo minucioso, com análises genéticas feitas com base em análises de DNA extraído de amostras de tecido muscular dos animais, diferenças morfológicas e anatômicas, além de informações sobre a história natural desses animais.
“Para que uma nova espécie seja aceita pela ciência, é necessário realizar comparação morfológica, genética, comportamental, sua distribuição animal, além da fisiologia da nova espécie com todas as outras espécies já descritas e reconhecidas. É um processo lento, com muitos detalhes. Desde o primeiro contato com os animais até a publicação leva alguns anos; nessa pesquisa, foram quatro anos inteiros de muito estudo”, detalha.
Segundo a diretora e Gestão e Monitoramento das Unidades de Conservação (DGMUC/Ideflor-Bio), Socorro Almeida, a descrição da nova espécie, para a região sudeste do Estado do Pará, tendo como habitat áreas do entorno do Pesam, reforça a importância das Unidades de Conservação da Natureza para a preservação e conservação dos ecossistemas.
“As 27 Unidades de Conservação Estaduais do Pará certamente guardam um patrimônio genético riquíssimo, com muitas espécies ainda por descobrir ou registrar. A cada descoberta de novas espécies ou registros de espécies ainda não catalogadas, novas ações de manejo devem ser providenciadas, dependendo do local do registro dentro da UC, a fim de resguardar a espécie e dar o devido tratamento aos recursos naturais”, disse a gestora.
Preservação e Conservação – Socorro Almeida reforça ainda que o Ideflor-Bio promove ações de gestão, em diversos eixos, em que a pesquisa é um componente básico para que se possa fazer o manejo dos recursos naturais da UC como forma de incentivar a preservação e a conservação da biodiversidade do Estado do Pará. A gestão das Unidades de Conservação é executada pela (DGMUC), por meio de nove gerências responsáveis pelas (UCs) estaduais, divididas por regiões administrativas, localizadas em pontos estratégicos do Estado do Pará.
“As ações compreendem trabalhos de campo que envolvem educação ambiental, monitoramento da biodiversidade, ecoturismo de base comunitária, prevenção e combate de incêndios florestais, conselhos gestores, entre outras ações que têm o objetivo da manutenção da floresta em pé e a garantia da vida saudável no Planeta”, destacou a diretora.
A presidente do Ideflor-Bio, Karla Bengtson, ressalta a importância das Unidades de Conservação (UCs) para garantir a preservação dos ecossistemas e conservação dos recursos naturais do Estado do Pará. As (UCs) são espaços terrestres e aquáticos que garantem a proteção de amostras representativas da biodiversidade da Amazônia, em especial de populações das espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção no Pará.
“Com os resultados das pesquisas, o Ideflor-Bio amplia sua atuação pela preservação e conservação da biodiversidade, apoiando pesquisas científicas, o desenvolvimento sustentável e atividades de educação ambiental, fortalecendo a missão do Instituto na preservação dos ecossistemas”, reforçou a presidente.
Publicação – O artigo científico de descrição da nova espécie foi publicado dia 14 de dezembro (online), na revista internacional científica Chelonian Conservation and Biology Turtle Conservation Fund (TCF-2002). É uma coalizão de parceria estratégica e de financiamento das principais organizações de conservação de tartarugas e indivíduos focados em garantir a sobrevivência a longo prazo de tartarugas e tartarugas de água doce.
A Chelonian Research Foundation é uma organização sem fins lucrativos fundada em 1992 para a produção, publicação e apoio à pesquisa mundial sobre tartarugas e jabutis, com ênfase na base científica da diversidade de quelônios e biologia da conservação.
Rewild é um movimento para construir um mundo em equilíbrio com a selvagem, fundado por um grupo de renomados cientistas conservacionistas junto com o ator Leonardo DiCaprio. O Rewild é um multiplicador de forças que reúne povos indígenas, comunidades locais, líderes influentes, organizações não governamentais, governos, empresas e o público para proteger e recuperar a vida selvagem em escala e velocidade.