Primeira professora surda da UFRA toma posse

Foi com um sentimento de quem quer fazer a diferença que Pâmela do Socorro da Silva Matos tomou posse na terça-feira, 21, como professora efetiva da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Pâmela passa a compor o quadro de docentes do curso de Letras com habilitação em Língua Brasileira de Sinais (Libras), sendo a primeira professora surda da instituição.

Recepcionada por professores e técnicos da UFRA, Pâmela Matos contou com o trabalho de dois intérpretes em Libras, também concursados da Universidade, Etiene Vaz e Walber Abeu, no ato de sua posse, na Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP). “Meu sentimento é de emoção, de felicidade. Sinto que agora eu tenho uma missão muito grande aqui na UFRA. Minha expectativa é de que aqui aconteça realmente uma mudança”, disse a nova docente. “Fico muito feliz por toda essa recepção. As pessoas aqui me receberam de coração aberto”, completou.

Para a coordenadora do curso de Libras da UFRA, Liliane Afonso, a presença do primeiro professor surdo é um marco para a instituição: “Ter professores surdos é importante para o crescimento da universidade e para o fortalecimento da causa da educação de surdos. A Pâmela representa uma expectativa muito grande, que é a de criar uma identidade surda dentro do curso, dentro da UFRA. A Universidade está extremamente feliz pela presença da Pâmela e pela grande profissional que ela é”, disse.

Ainda neste mês de novembro, o segundo professor surdo deverá tomar posse na instituição. Outra meta alcançada pela UFRA foi a vinda dos dois intérpretes de Libras para o quadro permanente de servidores da instituição. Os técnicos, empossados recentemente, contribuirão na questão da acessibilidade comunicacional, trabalhando com alunos surdos e também facilitando a comunicação entre surdos e ouvintes da comunidade acadêmica em geral.

Assessora de Inclusão Social da UFRA, a Profa. Wanubya Campelo afirma que a vinda da professora também será fundamental para a formação dos alunos do curso: “Agora eles vão ter o conhecimento amplo da Língua Brasileira de Sinais, convivendo com a uma professora surda. É importante que a formação desses alunos seja feita com um falante nativo. A Libras, para nós, é uma segunda língua, é uma língua estrangeira, então quando se tem contato com um falante nativo a formação é melhor”.

Professora da área de Atendimento Educacional Especializado (AEE) pela Secretaria de Educação do Pará (SEDUC), Valdice Santos acompanhou a amiga durante sua posse e falou sobre o trabalho que Pâmela desenvolve em prol das pessoas surdas: “Ela sempre foi militante da causa surda e da cultura surda. Ela sempre teve vontade de mudar a educação básica, mas sabia que, para que isso acontecesse, era necessário primeiro uma mudança no ensino superior, para a formação de profissionais. Eu vejo que a presença dela aqui na UFRA vai repercutir muito lá fora. Os surdos estão em festa”, disse.

Currículo – Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acará, licenciada em Letras-Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestre em Educação pela Universidade do Estado do Pará, Pâmela Matos é ex-presidente da Associação dos Surdos de Belém. Foi docente da Universidade Federal do Amapá (Unifap), já tendo atuado anteriormente na UFRA como professora-formadora do PARFOR. Possui experiência na área de Educação, Linguística e Inclusão Educacional, com ênfase em Processo de Ensino e Aprendizagem para Surdos.

Recentemente, a educadora publicou um VÍDEO, que rapidamente ganhou grande repercussão na internet, em que responde a críticas feitas por outra professora ao tema da redação do ENEM 2017: “Desafios para a formação de surdos no Brasil”. O vídeo possui mais de 2,5 milhões de visualizações.

Sobre o curso da UFRA – O curso de Licenciatura em Letras-Libras da UFRA teve aprovação pelo Ministério da Educação (MEC) no ano de 2016. Atualmente, o curso regular possui duas turmas em andamento e a terceira turma terá início em 2018. Já no âmbito do PARFOR, o curso possui uma turma em Belém e outra em Tomé-Açu.

Texto: Raíssa Lima e Jussara Kishi
Fotos: Raíssa Lima